O mais ilustre ídolo e fã de Ayrton Senna

O mais ilustre ídolo e fã de Ayrton Senna


Ayrton Senna Linha de Estudo

Gosto muito da ideia de que nossos ídolos, por maiores que sejam, também têm suas próprias inspirações. Que, no fundo, são só crianças que fizeram algo extraordinário. E como todo garoto, Ayrton Senna também tinha seus heróis. Deixa eu te contar sobre um dos maiores.

E era, também, o ídolo de mais de uma equipe, tá? O mecânico conquistou seus títulos por quatro marcas: Alfa Romeo, Mercedes, Maserati e Ferrari. Por onde Juan passava, o mundo parava para vê-lo - até porque, para além da pista, era conhecido por ter uma personalidade cativante.

Um de seus maiores fãs, aliás, nasceu no Brasil em 21 de março de 1960 e teve o prazer de encontrá-lo em 1984, em Nürburgring. Ayrton Senna era um dos novatos daquele ano, mas já tinha dois pódios: em Mônaco e em Silverstone, dois circuitos que marcariam (e muito) sua carreira.

Senna não terminou aquela corrida, mas escutou um de seus maiores ícones lhe dizendo “agora vi porque falam tão bem de você”. Dá pra imaginar a honra? E pra deixar ainda mais teatral, a cena aconteceu no mesmo palco onde, em 1957, Juan conquistou seu quinto título na Fórmula 1.

Juan Manuel se tornou o mestre de Ayrton. Ethel, sobrinha do argentino e mais conhecida como Pipí, contou em 2011 ao especial do El Gráfico que o tio costumava contar sobre seus próprios erros para que Ayrton parasse de se cobrar tanto. E, além disso, era um ótimo conselheiro.

Por exemplo, quando Balestre manipulou aquela corrida de 1989, foi Juan que ajudou Ayrton a manter a calma e não fazer nenhuma besteira. PS: Não vou elaborar sobre porque vai fugir do nosso tema, mas tenho uma outra thread só sobre esse caso. Vou deixar lá em baixo, tá bem?

Entre as várias conversas ao longo dos anos, Fangio pediu duas coisas importantes a Senna: que ele não lesse os jornais e que parasse de correr. Ayrton, em contrapartida, o convidou para a festa do seu próprio pentacampeonato - que, pelas suas contas, viria ao final de 1995.

Aqui, essa entrevista é de 1991, quando o brasileiro voou até Buenos Aires para conversar com o amigo, ídolo e confidente. Dá pra ver a admiração no olhar dos dois, né? Créditos: Jose Nildo Siqueira, YouTube.

Foi a segunda temporada da ascensão da Williams, e Ayrton já estava há quatro corridas sem vencer (em termos de Senna, uma tortura). Naquele dia, Fangio confessou que estava torcendo para que chovesse no meio da corrida, já que o amigo era o Rei da Chuva. E ô boca santa, viu?

A chuva colaborou pra última vitória de Ayrton Senna em Interlagos. Foi, também, a 100ª vitória da história da McLaren A MP4/8, no entanto, parou antes de chegar aos boxes. O público invadiu a pista e o Safety Car precisou tirá-lo do meio do povo.

Não bastando, o pódio ainda teve a participação especial de Juan Manuel. Ayrton fez questão de descer do topo do pódio para lhe dar um abraço cheio de carinho. Eu, particularmente, amo o vídeo desse dia com cada pedacinho de mim.

Segundo o jornalista Tales Torraga, do UOL Fangio contava cheio de orgulho aos amigos de Buenos Aires: “Ayrton me disse que desceu do pódio porque ninguém merecia ficar acima de mim”.

A vida pós-Ímola Apesar da idade avançada (já estava com 83 anos), Juan tinha a vida mais ativa que a minha. Segundo Pipí, o pentacampeão acordava às sete, tomava uns mates e dirigia até a filial da Mercedes. O motorista particular, aliás, ia no banco do carona !

Estava sempre organizando churrascos com os amigos, mas nunca aos domingos. Domingo é dia de corrida, é sagrado. Ponto. E no dia primeiro de maio de 1994, lá estava ele em frente à televisão assistindo ao GP de San Marino quando Ayrton se chocou contra o muro da Tamburello.

Como sua saúde já estava debilitada, a família insistia numa vã tentativa de negar a morte de Senna. Mas a notícia chegou e na noite da segunda-feira, em uma entrevista, declarou: “Morreu meu sucessor”. Juan Manuel Fangio nunca mais assistiu a nenhuma corrida de Fórmula 1.

Ele se recolheu. Não ia mais à Mercedes, não via ninguém. Segundo a família, Juan claramente perdeu a vontade de viver. Mas não só de tristeza viveu nosso queridinho. Em 94, ainda, Stirling Moss ficou sabendo de sua melancolia e voou da Inglaterra até a Argentina para vê-lo.

“Ele chegou ao meio-dia, e os dois ficaram a falar sem parar até às 16h”, Pipí contou ao Jornal I. Que milagre não faz um companheiro de equipe, não? A próxima parte, se me dão licença, vou copiar na íntegra a fala da Pipí porque não tenho cacife para descrever algo desse nível.

“No ano seguinte, a F1 voltou à Argentina e a Mercedes pediu que Hakkinen e Blundell o visitassem. Quando entraram, ajoelharam-se perante a ele e cada um lhe pegou uma mão. Juan soltou uma lágrima. Não pronunciaram qualquer palavra, limitaram-se a olhar uns para os outros”.

Juan Manuel Fangio faleceu em julho de 1995. A temporada de Fórmula 1 daquele ano, a que marcaria o possível pentacampeonato de Senna, terminou em 13 de novembro. E não sei vocês, mas eu tenho certeza de que os dois cumpriram a promessa de que estariam juntos naquele dia.

Source: laura 🏁