Quem foi Roland Ratzenberger, o piloto que morreu um dia antes de Ayrton Senna
Ayrton Senna Linha de Estudo
Infelizmente, pra Fórmula 1, os dias 30 de abril e 01 de maio marcam o Grande Prêmio mais trágico de sua história recente - e muita gente se esquece que morreu mais alguém naquele triste GP de San Marino de 1994. O nome dele era Roland Ratzenberger. Deixa eu te contar sobre ele.
Os pais de Roland, Margit e Rudolf, não se interessavam muito, mas não impediam o desenvolvimento da paixão do filho. Só que o automobilismo é um mundo caro, e os Ratzenberger não eram uma família abastada de dinheiro. Tinham o bastante pra pagar as contas, sabe? O essencial.
E, por isso, não ficaram exatamente felizes quando o filho chegou em casa dizendo: “pai, vou ser um piloto de corrida”. “Ele tinha um pôster do Rindt”, Rudolf conta. “Mas eu mesmo nunca fui grande fã de automobilismo. De qualquer modo, não poderíamos apoiá-lo financeiramente”.
Mas, graças a Deus, sonhar é de graça - e, nossa, como Roland sonhou. Todos os dias, a caminho da escola, passava perto da casa de Walter Lechner para dar uma olhadinha na oficina dele. Lechner tinha uma equipe de Fórmula Ford, o que sempre encheu os olhos do garoto.
Num timing perfeito, foi só Roland terminar o colégio que Lechner abriu uma escola de pilotagem em Salzburg. E a falta de grana não o deixou de fora. Vira e mexe, o garoto de dezoito anos fazia seus bicos dentro da escola - trocava pneu, dava aula, fazia de tudo um pouco.
Então todo campeonato que ele entrou foi por mérito próprio. Nem sempre com o melhor carro, nem sempre com o melhor desempenho, mas sempre lá. Sempre correndo atrás. Nessa pegada, ele percorreu o mundo da Inglaterra ao Japão - e sempre contando os trocados.
Inclusive, chegou a ter um pequeno momento de fama inusitada no Reino Unido - e tudo por conta de seu nome. Havia um personagem chamado “Roland Rat” - ou Roland, o Rato - em um programa infantil britânico e, pela semelhança, ROLAND RATzenberger fez algumas aparições na TV.
(desculpa, não dava pra deixar um evento desses passar em branco)
Mas marionetes à parte, o kartista brasileiro Maurizio Sala conta que Roland nunca desistiu da Fórmula 1. Pra economizar, o austríaco chegou a dormir diversas noites no chão do flat de Maurizio. E, uma moedinha aqui e outro pódio ali, ele começou a chamar a atenção dos grandes.
Chegou a testar pela Jordan para estrear junto com a equipe, em 1991, mas seu patrocinador deu para trás e tudo foi pelo ralo. Três anos depois, fez um teste privado em Imola e não poderia ter saído de lá mais feliz: assinou um contrato de cinco corridas com a Simtek.
Chegamos, então, em Imola, a terceira das cinco corridas contratuais. Mostrar serviço era essencial. Em casa, os pais haviam aprendido a gostar desse lance de corrida, e a família toda se reunia em frente à TV para vê-lo. Afinal, ele tinha conseguido. Tinha chegado onde queria!
Mas sabemos que o destino é um piadista de mal gosto. Ali, na Qualy do mesmo circuito onde havia conseguido a vaga, ele perdeu a asa dianteira da Simtek que representava o sonho de uma vida. O carro perdeu o controle e, de encontro ao muro, Roland Ratzenberger perdeu a vida.
O choque teve um impacto estimado em cerca de 500G, o que o coloca como um dos acidentes mais fortes da história da Fórmula 1. Sobreviver era impossível. Mas a organização de prova jurou que ele morreu no hospital. Enfim, não vou discorrer sobre. Tire suas próprias conclusões.
A morte de Roland abalou o grid. Foi o primeiro piloto a falecer em um Grande Prêmio desde o italiano Ricardo Paletti, no GP do Canadá de 1982. Boa parte do grid nunca tinha vivido algo assim. Um dos nossos brasileiros, inclusive, preparou uma homenagem para o dia da corrida.
Ayrton Senna agitaria a bandeira da Áustria ao final da prova como tinha o costume de fazer com a do próprio país. Uma homenagem singela, mas que estava ao seu alcance. Quando ele bateu na sexta volta, os médicos acharam a bandeira austríaca dentro do que sobrou da Williams.
Ainda no sábado, em casa, Rudolf soube que o filho havia partido no momento em que a Simtek bateu. “Quando eu vi a cabeça dele ali, tombada para frente, eu sabia que tinha acabado”.
Hoje, trinta anos depois, ele ainda sente o impacto daquele dia, e se lembra do filho com clareza e muito amor. Sua primeira palavra foi “carro”. Ele descia a rua de bicicleta correndo e deixava a vizinhança de cabelo em pé. Ele ficou feliz demais quando assinou com a Simtek.
O acidente fatal de Senna acabou fazendo com que a morte do garoto que chegou a dormir no chão para alcançar um sonho se tornasse, não raramente, uma nota de rodapé. Mas Roland tinha família, tinha amigos. Tinha um pai, uma mãe e duas irmãs que sentiram muito com sua partida.
Rudolf, no GP de Imola de 2022, apareceu no padoque com a jaqueta e o capacete do filho para lembrar ao público que mais alguém morreu naquele terrível fim de semana. Por isso, nunca se esqueça de Roland Ratzenberger: o garoto que morreu logo depois de alcançar seu maior sonho.
Source: laura 🏁